sábado, 26 de março de 2016

Não existe luz sem que haja a escuridão. Negar a escuridão a reafirma. Buscar a escuridão repleto de luz a ilumina. 

Edson Vidigal

terça-feira, 15 de março de 2016

Hoje aconteceu algo que me levou a refletir sobre uma situação que tenho vivenciado muito em minha vida: pessoas que cuidam muito dos outros e não conseguem deixar que ninguém cuide delas.
Tenho participado, às terças, de um trabalho que gosto muito: aplico shiatsu em um dojo na avenida paulista, para pessoas mais simples, que não podem pagar por uma terapia corporal ou algum outro tipo de tratamento nessa linha (que normalmente custam em torno de 150, 200 reais cada sessão). 
Então esse dojo (chama-se Oki-do) às terças feiras à tarde oferece sessões de shiatsu por um valor simbólico, que apenas ajuda a pagar os custos da sala e tbm fazer com que seja valorizado o trabalho, pois nenhum trabalho gratuito é valorizado nem por quem faz, nem por quem recebe (e isso é algo energético mesmo, não só financeiro). E eu tenho feito parte da equipe que se dispõe a realizar esse trabalho lá. Somos de 3 a 5 dependendo do dia.
Enfim, hoje atendi uma senhora, que deve ter em torno de uns 60 anos, mas que tinha não só o olhar, mas o corpo bem sofrido mesmo, com o dorso já bem pesado. Ela estava muito retraída, toda contraída, músculos todos tensos, não relaxava de jeito nenhum. Fui aplicando o shiatsu, bem de leve, e, conversando com ela, descobri que o filho havia nascido tetraplégico, e que até hoje, o filho já crescido, ela quem levava ele pra todo lugar, cuidava dele, carregava, enfim, fazia tudo o que o filho não podia fazer. Vivia em função do filho. E por isso seu próprio corpo refletia sua postura de ser um esteio geral ao filho por toda a sua vida. 
Descobri que ela nunca havia recebido antes uma massagem, ou alguma forma de cuidado físico de outra pessoa, até porque atualmente a maioria dos médicos são completamente impessoais, frios, ríspidos, e não confortam ninguém.
Quase ao final da sessão consegui que ela começasse a relaxar um pouquinho e que pudesse receber algum conforto físico. tentei ampará-la fisicamente e emocionalmente, mas vi que em primeiro lugar, ela precisava mais do que tudo, de atenção, e de aprender a se deixar ser cuidada.
Ela não pensava nela. Só no filho. E passou a vida em função do filho. Ou seja, desaprendeu a receber cuidados, desaprendeu a receber. Só sabia dar.
Apesar de que a grande maioria de nossa sociedade atualmente só quer receber, e não dá nada a ninguém, refletindo o espírito individualista, egoista, imediatista e ingrato de nosso tempo, existem pessoas, em contrapartida, que pelas circunstâncias tiveram que aprender a só dar, pois não tinham ninguém de quem pudessem receber. E assim, desaprenderam a receber, endureceram seus corpos, seus músculos, seus ossos, sua estrutura para serem capazes de suportar a falta, a dor, a sua e a daqueles que amavam, e que cuidavam.
Assim, tais pessoas desaprenderam a necessária ação de se entregar a outro, de confiar, de se deixar cuidar. Vivem apenas para cuidar de outro ou de outros.
Na hora comecei a pensar nisso, e estou pensando nisso até agora. Como ajudar quem não consegue mais deixar que alguém os ajude?
O que tenho feito é entender que a melhor ajuda que podemos dar a qualquer um é estar disponível para quando precisarem de nós.
Mas e as pessoas que sabemos que precisam de ajuda, mas não conseguem pedir, ou mesmo não conseguem mais nem se importar consigo mesmo?
Uma pena que nossa sociedade chegou a esse ponto, fez com que pessoas chegassem a esse deserto da solidão.
Felizmente, ela que havia procurado o dojo para receber o shiatsu. Com muito esforço, se entregou como pode para as minhas mãos, e, felizmente, ao fim da sessão, marcou de voltar semana que vem para fazer outra sessão comigo. 
Aguardo otimista pela semana que vem para tentar conseguir mais algum avanço, tentar dar a ela algum conforto, algum alívio de suas dores. Tentar ajudar ela a reaprender a cuidar também de si, e a se deixar ser cuidada.
E me aparecem na mente duas frases importantes na minha vida:
"somos responsáveis por aquilo que cativamos"
"Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado... Resignação para aceitar o que não pode ser mudado... E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”
Grande beijo a todos vocês, meus amigos.
Aprendi depois de muito tempo que, como tudo na vida, o amor também deve ser vivido com equilíbrio. A justiça, a balança centrada, é a mais sábia medida de todas as coisas. Amar aos outros como a si mesmo é diferente de amar aos outros mais que a si mesmo. Tanto no egoísmo quanto no "auto-abandono" existem falta e sofrimento para todos. Dar mais do que se recebe exaure. Receber mais do que se dá envergonha. Emoções são reações inconscientes oriundas principalmente da tentativa de controlar sentimentos. O sentimento verdadeiro é puro e expontâneo. Acho que incontrolável. Mas podemos e devemos, para o bem de todos, principalmente daqueles que temos consciência de que amamos, buscar o equilíbrio de nossas ações, o equilíbrio entre dar e receber, entre prometer e esperar, entre se entregar e acolher. Assim como somos senhores de nossos pensamentos e escravos de nossas palavras, Somos senhores de nossas ações, e escravos de suas consequências. Que aprendamos a nos amar uns aos outros como a nós mesmos. Nem mais, nem menos. Da justiça vem a paz, a saciedade, a completude, a serenidade, a eudaimonia. 
Bom dia a todos vocês, meus amados amigos.

Dê amor

A condição humana é determinada pela vontade. A dignidade humana é a característica de autodeterminação. O amor é livre e governa tudo e todos. Amar não é opção, mas estar ao lado de alguém que se ama é. Opções viram escolhas por meio da vontade. E a vontade busca, ou fugir do medo, ou seguir o belo. Precisa dizer mais?