sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A beleza está principalmente no olhar. 
Naquele pelo qual se chega ao infinito. 
Naquele que ilumina o que vê. 
Naquele que reflete a luz. 
Naquele que diz "eu te amo", 
e que se pode confiar.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Masculino e feminino


O papel da mãe (o feminino) é proteger, acolher, buscar segurança. É dizer "cuidado, menino, não faz isso que vai machucar". É cobrir, proteger do frio, dar comida, proteger da fome, abraçar, proteger do desamparo, acolher, dar um lugar pra se esconder, uma asa pra se enfiar quando as coisas dão errado. Alimentar fisicamente, emocionalmente.

O papel do pai (o masculino) é incentivar, dar coragem, soltar, ajudar a levantar vôos, ensinar a ir em busca do que se quer, a lutar pelo que se quer, ensinar a querer, a sonhar, ensinar a correr riscos para se alcançar objetivos, ensinar a cair e a levantar. Ensinar como buscar superar limitações, ir além de seus limites e buscar crescer. Ensinar a ser independente, a ter segurança própria.

O papel do feminino é segurar.

O papel do masculino é soltar.

O feminino, yin, é passivo, tende a retração, a encolher, pra se manter. É ligado à matéria, e a matéria é energia condensada, retraída.

O masculino, yang, é ativo, tende à expansão, a ocupar mais espaços, para se perpetuar, para crescer. É ligado ao espírito, e espírito é energia em expansão.

A saúde está no respirar corretamente, em equilíbrio. Respirar é inspirar (movimento de retração) e expirar (movimento de expansão). O universo respira, tudo respira, nós respiramos. O equilíbrio é essa correta e contínua respiração de forma fluída, em ritmo tranquilo, sem percalços, sem acelerações (ansiedades) e sem desacelerações (medos, depressões). Masculino e feminino interagindo constantemente (o símbolo do tao)

Pra conseguir esse equilíbrio, faz-se necessário ter dentro de si o equilibrio entre yin e yang, entre a energia passiva e a energia ativa, entre masculino e feminino.

Todos nós temos dentro de cada um nossa internalização de nossos pais e mães. Eu tenho dentro de mim a figura que internalizei da minha mãe, e a figura que internalizei do meu pai. E esses são meus referenciais de feminino e de masculino. Assim é que eu ajo femininamente, e masculinamente.

Excessos e faltas são desequilíbrios, e me levam a agir de forma afetada. Ou seja, enquanto eu não conseguir equilibrar o masculino e o feminino dentro de mim, a figura de minha mãe e a figura de meu pai dentro de mim (os modelos que sigo instintivamente), ficarei doente. Não conseguirei funcionar em nenhum aspecto da minha vida prática.

Repetirei os problemas de relacionamento dos meus pais em meus próprios relacionamentos, repetirei os problemas financeiros dos meus pais em minhas próprias finanças. Repetirei os vícios dos meus pais em minha própria vida. Os seus medos, as suas ansiedades, as suas fraquezas, as suas qualidades e defeitos.

Só conseguirei ficar sadio quando entender o que tenho de bom da imagem dos meus pais dentro de mim, e o que tenho da imagem deles dentro de mim que me faz mal, que não me serve.

Mas amamos nossos pais, e prestamos homenagens a eles sempre, mesmo sem perceber. Por amor a meu pai, repito os comportamentos dele, ajo como ele, mesmo sem perceber, e mesmo sem saber que me faz muito mal. Por amor à minha mãe, ajo como ela, sem perceber, e sem perceber que isso me faz muito mal.

Por que amamos muito eles, é muito difícil admitir que determinado comportamento nosso, que vem deles, é ruim pra nós. Por isso nos cercamos de muitas defesas e acabamos até agredindo aqueles que amamos pra defender nossos pais dentro de nós, nossos defeitinhos que herdamos deles.

Quando os pais se separam, e os filhos são criados pela mãe, naturalmente eles recebem muito mais do feminino do que do masculino. 

Então as crianças ficam mais tolhidas, mais apreensivas, mais medrosas, mais introspectivas, com menos ânimo, vontade, menos coragem, menos capacidade de lutar, de cair, de levantar, de ir à luta, de buscar, de tentar, de arriscar. Menos vontade de viver, pois a vontade de viver vem da vontade de buscar, de sair, de se expandir. 

Todas essas características que ficam faltando nas crianças que são criadas apenas pelas mães (ou pelas mães e avós) são masculinas, do espírito. Não são ligadas às características femininas de preservação da matéria, da vida física. São ligadas às características masculinas, de preservação do espírito. E o espírito é livre e quer crescer, quer conhecer, quer se aprimorar por meio de experiências novas, de erros e de acertos.

Não é que as características femininas sejam ruins. Ser criado apenas pelo pai, sem que ele consiga passar as características femininas, levam ao outro oposto, uma pessoa irresponsável, que arrisca demais, que ao invés de coragem, tem negligência, que não consegue se estruturar, construir, manter. Não consegue se relacionar por falta de substrato emocional, de capacidade de criar vínculos, de agregar, de se unir, de se comprometer. Pois quer apenas ir  e ir, sem se preocupar com voltar, com manter. Fica uma pessoa incapaz de se comprometer com ninguém, nem mesmo com ela. Muda o tempo todo, não para em nada. Fica no ar.

A doença vem do desequilíbrio. Ou seja, a cura está no retorno pro centro. Se tem algo demais, tem que encontrar o que está de menos, para suprir. Cortar os excessos e aumentar o que está faltando.

Normalmente, quando o papai não é perfeito, a mamãe não quer que seus filhos sejam iguais a ele. E diz pro filho: o papai é problemático, ele é viciado, bebe, é irresponsável, não paga as contas, não trabalha, não se preocupa com nada, não consegue estudar, não consegue se concentrar, não consegue se comprometer, o papai traiu a mamãe, o papai mente, o papai é um derrotado, um fracassado.

Aí o filho, que ama a mãe, começa a acreditar nisso (independente de ser verdade ou não), e internaliza essa imagem do pai. E esse passa a ser o seu referencial masculino. E por amor ao pai, ele vai ser sempre igual a isso. Vai agir dessa forma, mesmo não percebendo. E vai querer proteger a mamãe do papai, e vai se afastar dele cada vez mais (na realidade física, no relacionamento real), e vai começar a ficar muito feminino, e fugir do masculino.

Vai ficar com um masculino desequilibrado e doente, e um feminino desequilibrado e doente.

Vai querer sempre ser protetor, mas não vai conseguir proteger nada nunca, porque não tem um bom referencial masculino dentro de si, e assim não tem força para lutar, coragem para realizar, ímpeto para decidir, para se afirmar, para correr riscos. Como não corre riscos, não aprendeu a cair, a perder, não aprendeu a se levantar, a tentar se superar, a se fortalecer de cada porrada que toma.

E isso vai cada vez mais frustrar, porque por mais que ele queira fazer o bem, o certo, por mais que se preocupe com todo mundo ao redor, pois tem a caracteristica feminina de cuidar, de agregar, de manter, não consegue lutar por nada, e sem lutar pra se ter algo, não se tem nada pra manter, não é mesmo?

A vida começa com o masculino, com o impulso, com a ação. A mãe é super importante, mas sem o pai, nem existiria a mãe, e nem o filho. O pai dá início a tudo, tem a semente pra fecundar e só então a mãe passa a ser mãe, fecundada, e pode gestar, alimentar, cuidar, manter.

Sem masculino, não temos alegria de viver. Pois a manutenção da vida é mera sobrevivência, não é vivência. A vivência vem dos riscos, do conhecer mais do que se conhece. Do ir além do que se é.  É da experimentação. De IR, e não de FICAR.

Sem o espírito, só com a matéria, entramos em depressão. Estagnamos. Atrofiamos, encolhemos, murchamos até morrer.

Precisamos do papai dentro de nós, de forma sadia. E a mamãe não pode sufocar esse papai, não pode nos afastar dele, na intenção de nos proteger. E não falo do papai real. Falo da imagem internalizada dele dentro de cada um de nós.