terça-feira, 3 de setembro de 2013

DEVANEIOS SOBRE O PASSADO E O FUTURO


O passado é um instante que passa, acaba-se e deixa de existir para se transformar em um fantasma a nos atormentar a alma. Os animais, que vivem o instante, sem memória, são felizes, ao contrário de quem os inveja, os homens, que não conseguem esquecer. Que carregam o fardo das lembranças. Um fardo que cresce com o passar dos tempos. Um fardo que o esmaga e o desvia, que torna pesada sua caminhada e o faz se emocionar ao ver um rebanho pastar, como que se lembrasse do paraíso perdido, ou de uma criança que brinca, na sua feliz cegueira, sem qualquer passado a recusar.

Um rebanho que pasta ignora o que foi ontem, e o que será amanhã. Não espera, não imagina, não tem medo do que virá. Não associa causas a conseqüências. Não faz inferências baseadas no que passou. Simplesmente vive o momento e sua felicidade. Felicidade que consiste no instante. No presente. Não em um futuro que se espera a partir do que passou. Felicidade que irrompe eterna em sua eterna soma de instantes. Felicidade que corre livre e solta, sem o fardo das memórias passadas. Fardo que carregamos indiscriminadamente por não podermos esquecer.



E por isso invejamos as crianças, ingênuas e inocentes, imaculadas pela memória, pelas lembranças, pela noção de causa e conseqüência e pela brincadeira macabra e dolorosa que se chama indução. Brincadeira que nos faz de bobos medrosos, de crentes alienados que se entregam de corpo e alma a qualquer verdade que pareça sedutora. Verdade que se imagina, que se sonha, que se deseja, que se tem medo, que nos é imposta, seja por aqueles que nos guiam, seja por nós mesmos em nossos devaneios e medos. Verdade que não existe em nosso mundo real, mas apenas em um futuro criado pelo passado que se foi.

O Futuro, outro ente sem mãe, filho de um passado que já morreu. Filho que nunca chegará a nascer por não contar com um ventre fecundo. Filho que, tolhido de vida, nos assombra junto a seu pai em um eterno esperar. Esperar fruto do passado. Fruto maldito da árvore envenenada que nos negou o paraíso. Esperar que nos mói por dentro, que nos lega o medo e a infelicidade.

Não sejamos rebanhos. Estejamos sempre - sempre - na ativa!

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