Quase todos os sistemas
educativos inspirados no modelo ocidental conseguem despertar o interesse dos
alunos nos primeiros anos, mediante, a apresentação de atividades que consigam
ser motivadoras e que pareçam cumprir uma função importante em seu
desenvolvimento psicológico geral.
Contudo, a partir aproximadamente dos 10 anos, os
conteúdos vão se tornando cada vez mais acadêmicos e formalistas e se produz
uma clara perda de interesse por parte dos alunos. Essa perda de interesse se
intensifica na adolescência, produzindo uma ruptura entre os interesses
habituais do aluno e os conteúdos e as atividades que lhe oferece o sistema
escolar, sendo que estes, em sua grande parte, nada mais são do que resumos dos
conteúdos universitários.
Surge, então, um fenômeno que se convencionou
chamar “fracasso escolar”: não obstante o aluno possuir maior capacidade
cognitiva e maior quantidade de informações sobre numerosas questões do que em
idades anteriores, seu rendimento global e seu interesse pela escola costuma
ser, em termos gerais, muito menor que nos primeiros anos.
Essa distância entre o que os alunos podem e têm
interesse de aprender, e o que a instituição escolar lhes apresenta, dá ensejo
às reformas educativas na maioria das sociedades contemporâneas. E dentro
dessas reformas, surge a idéia do construtivismo, tema central de análise do
livro do psicólogo espanhol Mario Carretero, “Construtivismo e Educação”, mormente no capítulo 1, “Que é
conhecimento”, sobre o qual aqui teço alguns comentários.
Na obra citada, o professor Carretero
conceitua o construtivismo como, basicamente, a idéia que sustenta que o
indivíduo não é um mero produto do ambiente nem um simples resultado de suas
disposições internas, mas, sim, uma construção própria que vai se produzindo,
dia a dia, como resultado da interação entre esses dois fatores.
Logo, o conhecimento não é uma cópia da realidade,
mas sim, uma construção do ser humano. E, para tal construção, a pessoa precisa
fundamentalmente dos esquemas, ou seja, representações de situações concretas
ou de conceitos que permite manejá-los internamente e enfrenta-se situações
iguais ou parecidas.
Outro aspecto do construtivismo abordado em sua
obra concerne ao desenvolvimento da inteligência e sua construção social,
destacando as idéias de Piaget e Vygotsky, e suas respectivas contribuições.
Para Piaget, a inteligência atravessa fases
qualitativamente diversas. Assim, a diferença entre um estágio e outro não é
problema de acumulação de requisitos que vão se somando, mas, sim, o fato de
existir uma estrutura completamente diferente, que serve para ordenar a
realidade de maneira também muito diferente.
Já Vygotsky contribuiu com a idéia de que o
conhecimento é um produto da interação social e da cultura. Para ele, todos os
processos psicológicos superiores (comunicação, linguagem, raciocínio, etc.)
são adquiridos, primeiro num contexto social e, depois se internalizam. Mas
precisamente essa internalização é um produto do uso de um determinado
comportamento cognitivo no contexto social.
Comentando sobre as diferenças de pensamento entre
Piaget e Vygotsky, Carretero frisa que, enquanto Piaget sustenta que o que uma
criança pode aprender está determinado pelo seu nível de desenvolvimento,
Vygotsky pensa que é este último que está condicionado pela aprendizagem.
Porém, suas posições não são tão divergentes, mas apenas maneiras muito
diferentes de conceber o aluno e o que se sucede na sala de aula.
Em novo tópico de seu livro, o professor Carretero
fala da contribuição de Ausubel, sendo sua colaboração fundamental a concepção
de que a aprendizagem deve ser uma atividade significativa para a pessoa que
aprende e tal significação está diretamente relacionada com a existência de
relações entre o conhecimento novo e o que o aluno já possui. Para Ausubel,
aprender é sinônimo de compreender. Para ele, aquilo que se compreende, será o
que se aprende melhor, porque ficará integrado em nossa estrutura de
conhecimentos.
Carrero também destaca um dos conceitos
ausubelianos mais conhecidos, os denominados organizadores prévios, que são
apresentações que o professor faz com o fim que de sirvam ao aluno para
estabelecer relações adequadas entre o conhecimento novo e o que já possui,
facilitando, pois, facilitar o ensino receptivo-significativo que Ausubel
defende.
A teoria de Ausubel teve o mérito de mostrar que a
transmissão de conhecimento por parte do professor também pode ser um método
adequado e eficaz de produzir aprendizagem, sempre e quando leve em conta os
conhecimentos prévios do aluno e sua capacidade de compreensão.
Finalmente, Carretero fala de três tipos de
construtivismo: a aprendizagem é uma
atividade solitária, que se baseia na idéia de um indivíduo que aprende à
margem de seu contexto social; com amigos
se aprende melhor, isto é, o intercâmbio de informação entre companheiros
que têm diferentes níveis de conhecimento provoca uma modificação dos esquemas
do indivíduo e acaba produzindo aprendizagem, além de melhoras as condições
motivacionais da instrução; e sem amigos,
não se pode aprender, que sustenta que o conhecimento não é um produto
individual, mas sim social. Impende dizer que entre estas três posições, não
haja uma que seja mais correta, mas sim que há uma complementação entre elas.
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