quarta-feira, 11 de setembro de 2013

MARIO CARRETERO: CONSTRUTIVISMO E EDUCAÇÃO




Quase todos os sistemas educativos inspirados no modelo ocidental conseguem despertar o interesse dos alunos nos primeiros anos, mediante, a apresentação de atividades que consigam ser motivadoras e que pareçam cumprir uma função importante em seu desenvolvimento psicológico geral.

Contudo, a partir aproximadamente dos 10 anos, os conteúdos vão se tornando cada vez mais acadêmicos e formalistas e se produz uma clara perda de interesse por parte dos alunos. Essa perda de interesse se intensifica na adolescência, produzindo uma ruptura entre os interesses habituais do aluno e os conteúdos e as atividades que lhe oferece o sistema escolar, sendo que estes, em sua grande parte, nada mais são do que resumos dos conteúdos universitários.

Surge, então, um fenômeno que se convencionou chamar “fracasso escolar”: não obstante o aluno possuir maior capacidade cognitiva e maior quantidade de informações sobre numerosas questões do que em idades anteriores, seu rendimento global e seu interesse pela escola costuma ser, em termos gerais, muito menor que nos primeiros anos.

Essa distância entre o que os alunos podem e têm interesse de aprender, e o que a instituição escolar lhes apresenta, dá ensejo às reformas educativas na maioria das sociedades contemporâneas. E dentro dessas reformas, surge a idéia do construtivismo, tema central de análise do livro do psicólogo espanhol Mario Carretero, “Construtivismo e Educação”, mormente no capítulo 1, “Que é conhecimento”, sobre o qual aqui teço alguns comentários.
 Impende ressaltar que o construtivismo não é um termo unívoco. Quando se fala em construtivismo associado à idéia de reforma educativa, se faz num sentido lato e não num sentido estrito, haja vista ser uma posição compartilhada por diferentes tendências da pesquisa psicológica e educativa.

Na obra citada, o professor Carretero conceitua o construtivismo como, basicamente, a idéia que sustenta que o indivíduo não é um mero produto do ambiente nem um simples resultado de suas disposições internas, mas, sim, uma construção própria que vai se produzindo, dia a dia, como resultado da interação entre esses dois fatores.

Logo, o conhecimento não é uma cópia da realidade, mas sim, uma construção do ser humano. E, para tal construção, a pessoa precisa fundamentalmente dos esquemas, ou seja, representações de situações concretas ou de conceitos que permite manejá-los internamente e enfrenta-se situações iguais ou parecidas.

Outro aspecto do construtivismo abordado em sua obra concerne ao desenvolvimento da inteligência e sua construção social, destacando as idéias de Piaget e Vygotsky, e suas respectivas contribuições.

Para Piaget, a inteligência atravessa fases qualitativamente diversas. Assim, a diferença entre um estágio e outro não é problema de acumulação de requisitos que vão se somando, mas, sim, o fato de existir uma estrutura completamente diferente, que serve para ordenar a realidade de maneira também muito diferente.

Já Vygotsky contribuiu com a idéia de que o conhecimento é um produto da interação social e da cultura. Para ele, todos os processos psicológicos superiores (comunicação, linguagem, raciocínio, etc.) são adquiridos, primeiro num contexto social e, depois se internalizam. Mas precisamente essa internalização é um produto do uso de um determinado comportamento cognitivo no contexto social.

Comentando sobre as diferenças de pensamento entre Piaget e Vygotsky, Carretero frisa que, enquanto Piaget sustenta que o que uma criança pode aprender está determinado pelo seu nível de desenvolvimento, Vygotsky pensa que é este último que está condicionado pela aprendizagem. Porém, suas posições não são tão divergentes, mas apenas maneiras muito diferentes de conceber o aluno e o que se sucede na sala de aula.

Em novo tópico de seu livro, o professor Carretero fala da contribuição de Ausubel, sendo sua colaboração fundamental a concepção de que a aprendizagem deve ser uma atividade significativa para a pessoa que aprende e tal significação está diretamente relacionada com a existência de relações entre o conhecimento novo e o que o aluno já possui. Para Ausubel, aprender é sinônimo de compreender. Para ele, aquilo que se compreende, será o que se aprende melhor, porque ficará integrado em nossa estrutura de conhecimentos.

Carrero também destaca um dos conceitos ausubelianos mais conhecidos, os denominados organizadores prévios, que são apresentações que o professor faz com o fim que de sirvam ao aluno para estabelecer relações adequadas entre o conhecimento novo e o que já possui, facilitando, pois, facilitar o ensino receptivo-significativo que Ausubel defende.

A teoria de Ausubel teve o mérito de mostrar que a transmissão de conhecimento por parte do professor também pode ser um método adequado e eficaz de produzir aprendizagem, sempre e quando leve em conta os conhecimentos prévios do aluno e sua capacidade de compreensão.

Finalmente, Carretero fala de três tipos de construtivismo: a aprendizagem é uma atividade solitária, que se baseia na idéia de um indivíduo que aprende à margem de seu contexto social; com amigos se aprende melhor, isto é, o intercâmbio de informação entre companheiros que têm diferentes níveis de conhecimento provoca uma modificação dos esquemas do indivíduo e acaba produzindo aprendizagem, além de melhoras as condições motivacionais da instrução; e sem amigos, não se pode aprender, que sustenta que o conhecimento não é um produto individual, mas sim social. Impende dizer que entre estas três posições, não haja uma que seja mais correta, mas sim que há uma complementação entre elas.

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