Interagimos com o mundo, disse eu. Mas o que é o mundo?
O mundo, em nossa visão humana moderna, é o que não sou eu. É “o
resto”.
A
primeira coisa que precisamos para que exista um “ser” é um “não ser”. Para que
uma coisa seja uma caneta, ela precisa não ser todas as outras coisas que não
são canetas. É por exclusão que se identifica algo. Assim, para nos percebermos
“entes”, para sermos “conscientes” de que existimos, e que somos algo, ou
alguém, precisamos nos diferenciar do resto, por exclusão. Eu sou eu até aqui.
Daqui pra frente não sou mais eu. Daqui em diante é o resto que não sou eu, ou
seja, o mundo. Eu sou Edson, então não sou o André, nem o Guilherme, nem a
Marina, nem a Maria, nem o José, nem ninguém mais...
Então,
apesar de ser eu e o “resto”, nós vivemos no “resto” também, e se for parar pra
perceber mesmo, fazemos parte desse resto, vez que, sem ele, não existimos. Ele
faz parte de nós. O mundo não existe sem nós, e nós não existimos sem o mundo.
E nós vivemos por sermos uma constante ação. Enquanto agimos, estamos vivos.
Quando pararmos de agir, estaremos mortos. Agir, nada mais é do que trocar
estímulos e respostas com o “resto”, ou com o mundo, ou com o “meio” em que
vivemos.
Assim,
sem querer levantar polêmica, que não ajudaria no sentido que me proponho,
posso dizer que, para o mundo da práxis, viver é agir. Viver é trocar estímulos
e respostas a esses estímulos. Isso é a vida.
O
caráter é isso. É como uma pessoa tende a trocar estímulos com o meio. Digo
“tende”, porque ao trocar estímulos, ele age, e nesse agir, continua recebendo
informações, continua criando verdades. E tais verdades podem inclusive modificar as
já adquiridas.
Então,
com o processo de troca de estímulos, apesar de termos “tendências”
cristalizadas em determinados “padrões”, sempre estamos recebendo novas
informações, e por isso, sempre estamos aptos a mudar tais padrões. A mudar
nossas verdades, nossas crenças, nossas repetições, nossas ações. A partir de
uma ação diferente do padrão, podemos iniciar um novo ciclo de repetições, com
novos hábitos, novas crenças, novas verdades, novos padrões e novo caráter.
Podemos começar a mudar a nossa “essência” a qualquer minuto, ao contrário do
que os “doutos ontológicos” possam pensar.
Vemos
então o papel que os estímulos e as respostas representam em nossa vida, em
nosso caráter, em nosso agir, na nossa tomada de decisão. No nosso responder
frenético à angustiante pergunta: “O que fazer?”
Eles
são o ponto chave para o início de uma vida consciente, onde se é o que quer
ser. Onde não somos apenas marionetes ao sabor de nossa “essência vilã”, ou dos
“caprichosos astros”.
Existem
tendências, padrões. Mas existem também a cada instante novas possibilidades de
mudá-los.
Como
parece que disse Heráclito, Um homem nunca toma banho duas vezes no mesmo rio.
Nunca mais será aquele rio, e nunca mais será aquele homem.
Sempre na ativa.
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